O Filho

Prazer, o ter sob a cautela.
Cuidadoso vai à euforia.
Melancólico cuida da leveza.
Arrojado vai à montar e, se procede ao teu juízo,
ergue-te sobre o lombo dum touro bravo.
Se preciso for; uma vez tomado este cuidado,
repete calmamente em frente ao espelho. Se
vai-te à garantia te embrionando, dá a luz esse
rebento.
Preocupar-se com o quê?
Dá-lo ao mundo mais esta potência.
Premedita.
Educa-o..
É teu filho, ora - pelo quanto haver desejado, veio-lhe
robusto e forte.
Quais dessas manias a quem tuas atribuirá-te!
Cerca-o de carinho.
Pede-lho o beija-mão.
Derrama sobre si a tua bênção final.
Caduca, pai dos seus suplícios, a despendida graça.
Tece-lhe o valor e a comenda.
Exaspera suas qualidades; diminui-lhe os erros:
mostras assim do que to chamas, filho.
Produz para com isto o leite para crescê-lo.
O estudo para educá-lo.
O fiapo de vida que é por pouco há de desalinhar-se um
carreão; não muito, mas nele espera, colhe e semeia.
Quando pôr pressa nos pezinhos, o segura e põe-lhes a uma roda para que não caia.
Alevanta-o, conquanto, a cada queda. Ri consigo. Colo pede se chora. Berça-lhe a vida inteira.
Dá-lhe, além da graça da luz, a dos caminhos.
Terno, sê para si a ternura mesma.
Não sejas ríspido.
Apacienta-te dele.
Descobre-lhe as manhas. Os rodamoinhos da idade quando vierem.
Orna-to ao colégio de tua sabedoria, mas saiba desapegar-te.
Meninices tão tuas! Ó, vai como o pai - vai, atrás das moçoilas, e, beija-lhes os lábios nas esquinas escuras: para a dor, menino; acostuma-te também dela - alegrias tas compensarão as mulheres mais vividas.
Dá-lhe o primeiro gole diretamente do teu copo; e, cedo!, inicia-o nas artes e na música.
Ouve-lhe o prodígio.
Faz-te pena suas penas.
Envelhece-o, para quando envelheceres não estares só.
E, antes cuida de morrer, se é a que escolhes à morte tua, dantes à dele. Soe. Brigue.
É teu filho.

Pedro Costa