Príncipes e Princesas

Socorro! Estão me seguindo. Não seguindo meus passos, sim vigiando meus passos. Ralos passos, falsos passos, cambaleantes. Antes não era assim, eu andava por aí despreocupado, desocupado e agora tudo mudou. Logo agora que não sou mais quem eu era. Estão me seguindo, caçado como um animal, tal como estou me sentindo: um animal.

Parar é que não posso. Olhar para trás, nem se eu fosse um Ás. Coringa que sou, olho adiante, fronte radiante, sem perder a compostura. Sátiro que sou, rio do perigo, mas sei também o perigo zomba de mim. E me passo por vadio, estreito e malandro, cousas que nunca fui e nunca serei. Aponta-me o caminho e eu seguirei, tranquilo.

Já foram muitas perdas, muitas irrevogáveis, muitas inexplicáveis perdas em vão. Continue! Me sopra o destino. Este tem faro fino, mais um motivo para não lhe confiar a palavra. Atribui, dizem as maiorias, mandadas das minorias sujas, minorias burguesas que só tem um fim: formar, no alto escalão da sociedade, príncipes e princesas.

Fortaleza, 21 de setembro de 2003