Adeus pendente

Pendem-se algumas originais ao sentido quando o copiamos para os arrebates um escopo e servem de prova - a mais contundente de todas, é a da projeção feita então de um passado outrora em vagar dúbio sobre a questão de sua existência mesma -, procedem, no exâme das mesmas (geralmente sob a luminosidade de uma meia lua) alguns retoques a quem gostaria de dar à luz os nomes: culpa; a maior evidência para dar-se numa ocasião fatídica o enredo por onde seguiu-se; impávida, armoreada; o corpo; e, nele as cicatrizes povoa o dúbio conteúdo que rivaliza com o espírito, e, as mesmas marcas outrora, de uma especial atenção por passar ao momento de então uma contida memória praticada na presença da matéria; o preâmbulo; a provisória prova da especulação, e, por fim, a memória; o maior brinquedo de quem foi na infância o tempo ido -, mais, insistentes estas meninges belamente compõem o esforço de fazer-se agora com que ocultem-se, sob alguma forma, já as contingências presenciais, e, sem as quais seria impossível manter-se sério quanto à lucidez; conveniente simulacro de onde pousam estas suas reproduções, amenizadas ao pensamento e a distanciarem de si uma razão (embora busquem-se para si justo motivos, os quais não existem, para houver-se uma forja donde propagou-se para este determinante, os causais idílicos do presente; mas que incansavelmente, buscando-se imprime-se verossimilhança - sendo então bisbilhionicionices d'Alma sobre seu reflexo e tão-somente isso) própria da cousa em si - o originalmente copiado; permitem-se os mais desenganados de agora, reviver ad infinitum, pondo como a seus olhos sob a laudas escritas de si; e, a um só momento, tudo o quanto se-lhes passara e aquele montante onde deveria resistir um adeus pendente.

Pedro Costa