E a vida fechou-se-me uma concha -,
se do lado de
fora, estendem-se ondas, maríbulos moldadores -
encerra-me dentro a ausência de uma pérola; uma
língua de gosma apregoa minha carne; um mistério
exterior aleija-me o ouvido para fora, enclausuro somente.
E, já não irão mais pertencer-me as ondas do mar
ou a fome do oceano - assim perdido aos abrolhos
confins do nada.
Mais ou menos a sorte
vem, com a maré.
À esperança de uma garrafa
com um recado dentro ou de uma criança travessa que
venha-me e liberte - Ai! Pandora - desta caixa, o meu
mundo;
Mas nós bem o sabemos: ninguém há de
aparecer: garrafa ou criança, e se, solto daqui, de que
haverá o mundo em contentar-me?
Por quê sóis?
Mesmo a estrela-do-mar e o cavalo-marinho,
meus vizinhos, possuem liberdade maior e mais
risível; eu, sou a minha condição, um ostra des-
perolada, fogo sem chama, espuma do mar.
Eu, outra
vida nada posso, só a esta que é feito um cadeado.
Sorria!
Os ventos de abril vêm-me cantar. Desviram e
chacoalho viver uma baba viscosa que escapa.
É o meu fio de quem sou deixando-me para o
exterior...
Procede assim mesmo. Pouco mais há-de fazer-se.
É monótono e parado este existir.
Provocarei uma doença a esta concha muito
provavelmente, logo mais e ela há de cuspir-
me - no quanto envenená-la é a mim também
tornar doente -, um doente liberto -, uma pene-
da que lhe arranhe e a mim lhe desfalque.
E a isso, chamarei morte.
Ou vida.
Petrecostal
Blog estritamente com fins literários. Peço,por meio desta, aliás, exijo os direitos sobre tudo o que está escrito. Sem brincadeira, respeitem o espaço, para evitarmos complicações judiciais. Agradece, Pedro Costa.
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
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