Blog estritamente com fins literários. Peço,por meio desta, aliás, exijo os direitos sobre tudo o que está escrito. Sem brincadeira, respeitem o espaço, para evitarmos complicações judiciais. Agradece, Pedro Costa.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Fuligem

Esqueço os véus da cortina
a abanarem na sala,
Sopra uma brisa e dançam
feito baile - curvo para
alcançar um canto mais
                                                 [obscuro,
Onde vai a flanela empoeirando
a si, contendo fuligem que
escapa do móvel.

Vou esquecido, mas limpando
                                                               [e,
Mesmo sabendo que vai juntar
poeira - o que posso fazer? -,
vou até onde a vassoura alcança.

Devo ter muitas questões mal
resolvidas,
                          tudo se faz um
                                                            [pó
matreiro. É que dentro em mim,
os problemas se sacodem; fazem um
rebuliço danado na ponta do espanador.

Uma cousa é fato: possuo muitos livros:
Olhe, espanando as estantes é quando
descobre-se ser, ou pelo menos parecer
inteligente - um por um, você sabe, cada
qual, uma história.

Um passado.

Minha casa fica na R. Dom Expedito Lopes.
A sujeira entra pela porta - sempre aberta -
e pelos combogós, a fuligem vinda da rua.

Toda semana tem o dia da faxina,
a hora da novela e o jogo de futebol.

Às vezes estou mais sensível a uma flor em
especial,
                         no mais não há muitas muriçocas.

De dia, o pó é tanto que embranquece o
                                                                           [piso;
Tem de fazer faxina.

                                         A fuligem não quer saber
se o dia foi duro, não.
                                         Ela penetra
e agarra nos móveis (Ai!), fica tudo
coberto.

Minha senhora morreu.
                                             Sou apenas eu aqui.
Visita, tem pouca; mas quando vem tá bem limpo
pra receber.

Mas não é pela impressão, é danação do vento em
trazer pra dentro o pó do
                                                  [mundo.
Pega nos vasos. Toma a cozinha, os quartos.

Como sou só, trabalho devagar; em pensamento,
a fineza e o contrato de mim para comigo que só
termino quando vejo o chão reluzindo, sem pó.

E retiro os quadros. Subo a mobília. Limpo em
cima e embaixo.

Boca de fogão, pia, banheiro, antes de limpar
é tudo fuligem.

Uma espanada ali, outra aqui.
Até onde a vassoura alcança.
                                                           [Teto.

Inclina daqui, estica dali - vai longe o pensamento -.

Pedro Costa

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