Antigamente, quando o mundo era uma fábula, antes dos cientistas dominarem com sua razão as planagens onde percorriam, por certo aturdidos dos juízos, os verdadeiros pensadores - casta rara hoje em dia - e as edificações corriam seiva em suas veias, deve mesmo haver tido um motivo para esperança; deve - por certo - haver uma raça onde no cear ao fim do dia quando, violácea cor do céu, espantava Vênus os maus agouros, onde um bom vinho era curtido, um sentido para a vida que até então era bem duradoura; na cabala do cotidiano, quando chovia os burros se molhavam mesmo e aquilo seria interpretado como um sinal de boa safra; quando o trigo e o joio fermentavam o mesmo pão pois poucas eram as padarias especializadas; onde ao verde da grama os filhos daqueles altivos na arte de pensar com eles se deitavam e ao sol se ensinava (talvez) algo além de bem e mal; qual a mulher domesticava o lobo em manso da estepe, os fenômenos eram irradiações deste mesmo pensamento, as guerras uma verve da indecência de seu costume de andarem nus, e, os animais mortos só à fome serviam; plantavam-se tanto vegetais como apanhavam-se frutas de modo a não estagnar recursos, pois, nada disso fazia-se por acúmulo de riqueza e por riqueza entendia-se sabedoria; quando o pasto era para o rebanho e o rio para banhar-se e a noite para música e vinho; o astro maior uma causa para alegria e a lua para os amantes; estivera-se por aí uma verdade dissimulada que não feria ou precisava impor-se pois a eternidade pertencia tão-somente a uma única cousa: o pensamento a, livre, esmiuçar as diferenças e tudo isso sem que precisasse-se de alguém para orgulhar-se em parecer só a quem se era - eis, o breve relato de quem uma paródia tornou a tanto; um vínculo com algo maior, uma certeza submetida ao crivo de uma apoteose do espírito desnecessária e avulsa -; eis, sobre o pedestal do Destino qual longa ia a impaciência para com o de ali já posto, algo para com quem comparar-se; com quem andar-se ao lado e a quem por fim temer: e o mundo estremeceu sob uma só voz, o olhado sentimento de pertença sobre si acostumara-se, deprimida a satisfação em pertencer a algo acima, esta babel emérita da desolação para fora de si; para algo supremo e por isso que não admite o pensamento; à deriva em tamanha controvérsia pensar mudou-se em doença e doente o seu portador; a hecatombe caiu aquela antiga liberdade por terra e apelidou-se a este sentimento selvagem uma palavra carregada chamada culpa; a divisão das águas tornou a quem bebia o todo um modesto e medíocre degustador da parte, o super sob o individual passou enfim a superficial e no céu um raio varou o sentimento de que pensar é em si um sofrimento; os joelhos dos homens dobrar iriam quais as crianças somente assim o poderiam fazê-lo - sem necessidade - pois dantes flexionava-lhes só o exercício na previdente e pesada almálgama qual entristecida tornou-se a consciência; sobejou-se a eternidade como dívida e passou-se a cobrar por ela e comprimiu-se o desejo à bagatela de um escárnio - perdera-se, então, um trajeto feito em belas curvas para a retidão da moral recém-nascida.
Petro
Blog estritamente com fins literários. Peço,por meio desta, aliás, exijo os direitos sobre tudo o que está escrito. Sem brincadeira, respeitem o espaço, para evitarmos complicações judiciais. Agradece, Pedro Costa.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
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