Meia poesia não existe.
Flores a meio vaso, colega..
Qual desilusão!
Meio poeta o queira,
Não: meia poesia.
Inda assim, aconselho:
Se é pra poetar pela metade
Vá tentar o varejo, ou a advocacia -
Há talentos também para isso...
Tente por meio sol ao fim do dia, ora,
Sol inda muito à noite descabelará
A lua -, olhe! - que lua é essa
Se não a dos poetas?
E, lá se brilham meias estrelas
Ou fazem os pássaros meios vôos
E nem árvores meia sombra!
Quanta depressão seria impossível
Suportar em seio voluptuoso uma
Poesia pela metade.
Nega-te, ó nobre colega, ao feito
Não perfeito: se é poema, é todo
Poema, e não, verso de pé quebrado;
Ora, qual insulto: meia poesia...
Pois meios bris e meias glórias;
E meios-termos - Ai! - estou
Cheio disso. À toda meia verdade
Uma meia virtude; uma meia-calça,
Rebentada no corte, é tudo meia
Poesia.
E meia página de que serve?
Lauda inteira - ora, colega
Não lha pede a Academia?
Prova a tarde lá brilho igual
A uma prece torrada na degola
Do debulho de cota, e encerra-se
O pão do Pai-Nosso um carioquinha?!
Jamais - é inteiro o pão de cada dia.
Linha, agulha, dedal: faz o comboio
Todo meia saia? Mas, veja - até
A mini-saia é saia inteira lá
Pra meia bunda? Meio peito,
Meia ternura?
E se é meia a poesia; quem
A escreve é meio-poeta...
Poeta de veraneio que faz
Ponta de lápis na navalha,
É pronto um poetinha!
Poesia mesmo é inteira,
É beata e canonizada -
É santa! Ave Maria.
Não existe meia poesia.
Petro
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