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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Da Banalidade da Vida Cotidiana

O entra e sai das pessoas num ônibus. O amargo cheiro do suor. O som embaralhado de vozes dissonantes a proferir os tropeços do caminhar cotidiano. Em vista de tão deselegante desarranjo, fico envolto à entropia natural de pássaros a esvoejar, tomando nos cabos de alta tensão, posicionamento singular a cada instante. E olho para os pássaros e vejo as pessoas e em meu ouvido entoa desarmonia e imperfeição.
Frustrado cada vez mais com a banalidade do cotidiano que vivo, a cada dia, semana, mês e ano, penso, ao ver um lago pela janela, em penetrá-lo até o seu mais profundo e nele poder me afogar.
O carro pára, eu desço, meio que embriagado dos odores que pairam no ar, odores da cidade. Vou andando, agora para casa. Súbito um requinte de paz toma-me a alma e tranquiliza-me a face raivosa: espera-me ao lar minha amada. Requinte passageiro esse, que se vai quando vem a lembrança do marasmo que é o cotidiano doméstico, talvez mais abominável até do que o da rua. A televisão a esbravejar, em timbre de repórter, exemplar, as dores do mundo. Quão revolto isso me faz! Saber que o que é guerra dentro de mim, é guerra fora também. E se assim o é, onde hei de encontrar a paz?! Jornais sensacionalizam os fatos, é o cotidiano deturpado. Minha amada... se foi, deixou-me há tempos; e eu, sob a ilusão dessa quimera, vivo como se não a tivesse perdido e, nessas horas, me encontro comigo mesmo e me esqueço de como é o amor.

Fortaleza, 05 de agosto de 2002

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